agosto 15, 2007

Esquecimento


Não recordar-se dos próprios sonhos é errar o caminho que nos traz do mundo onírico à vigília. Ao caminhante noturno foi recomendado que não parasse em lugar algum, não obedecesse a qualquer dos seus sentidos, muito menos a sua curiosidade, mas ele falhou, certamente. Não se trata apenas de ter perdido a informação que, refazendo-se o percurso, poderá ser reencontrada, mas de experimentar a perda sem solução, pois nenhum guia noturno o levará a repisar suas próprias pegadas, de maneira a experimentar novamente o que viveu e sentiu ao passar por aquele trecho. Não lembrar de seus sonhos – tendo certeza que sonhou – talvez seja uma espécie de autocensura, talvez uma recriminação inconsciente, e por isso mesmo inaceitável. O coma, ou melhor, o tempo vivido em uma UTI, durante o qual vagamos entre o longínquo barulho dos aparelhos e a visão entrecortada daquele mundo sem dias ou noites, assemelha-se ao esquecimento do sonhado. Ainda levará uma hora para amanhecer. Como o herói que detém apenas um quarto do mapa do tesouro, que ele estuda repetidas vezes, sem conseguir identificar o Norte ou o Leste, assim inicio o dia, certo de ter perdido o essencial, esvaziado do patrimônio que jamais recuperarei.

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