novembro 18, 2010

O romance, uma espécie de abrigo temporário

“Sem uma arte que não se esquive diante de qualquer horror pessoal ou coletivo, ele [Proust] insiste, não podemos conhecer a nós mesmos nem aos outros. Apenas a arte penetra no que o orgulho, a paixão, a inteligência e o hábito edificam por toda parte – as realidades aparentes deste mundo. Existe uma outra realidade, e genuína, a qual perdemos de vista. Esta outra realidade está sempre nos enviando sinais, que, sem a arte, não podemos receber. Proust denomina estes sinais de nossas ‘impressões verdadeiras’. Sem a arte, as impressões verdadeiras, nossas intuições persistentes, ficarão escondidas para nós, e não nos restará mais nada senão uma ‘terminologia para fins práticos, a que falsamente chamamos vida’.

[...]

Ninguém que tenha gasto anos escrevendo romances pode ser indiferente a isso. O romance não pode ser comparado ao épico, nem aos monumentos do drama poético. Mas é o melhor que podemos fazer agora. É uma espécie de abrigo temporário, uma choupana onde o espírito vem buscar guarida. Um romance se equilibra entre algumas poucas impressões autênticas e a multidão de impressões falsas que mascaram aquilo a que chamamos vida. O romance nos diz que para cada ser humano há uma variedade de existências, que a existência isolada é ela mesma em parte ilusão, que essas várias existências significam alguma coisa, tendem a alguma coisa, preenchem alguma coisa; o romance nos promete sentido, harmonia, e até justiça. O que Conrad disse era verdade: a arte tenta descobrir no universo, na matéria bem como nos fatos da vida, aquilo que é fundamental, duradouro, essencial.”

Saul Bellow, Discurso do Prêmio Nobel

2 comentários:

Pedrita disse...

nossa, acabava de pensar sobre isso já q falei no meu blog do livro o sol se põe em são paulo do bernardo carvalho. depois de escrever sobre o livro fui ler a resenha do júlio pimentel pinto e descobri que ele não gostou do livro. diz que não é ruim, é melhor do q muito foi feito, mas não gostou. interessante o qt ele ressalta questões tão diferentes da minha. bom, ele é um crítico e professor de literatura, eu uma reles diletante. mas acho q é essa discussão diletante do narrador do livro, um escritor q não escreve, q questiona a arte de escrever que mais me fascinou em o sol se põe em são paulo. beijos, pedrita

sonia disse...

O mundo que Proust penetrou e percorreu em seus livros é privilégio de poucos escritores. Ele chega no sentido e na alma daquilo que deseja exprimir, e o faz como ninguém!!!