junho 08, 2011

Hesitações e corruptelas

No Rascunho deste mês, escrevo sobre Dona Guidinha do Poço, romance de Manuel de Oliveira Paiva redescoberto, em 1945, por Lúcia Miguel-Pereira.

Vejam alguns de meus comentários:

Em vários trechos, uma patologia peculiar acomete o leitor, condenando-o a ver o colorido do texto turvado de manchas semânticas ininteligíveis. Temo que jamais saberei por qual motivo o “ervanço […] incensa os sertões ao pôr do sol”, ainda que a imagem, de maneira instintiva, agrade-me; ou o que significa dizer que um burro “é fácio pro penso”; ou como o chão fica quando “acamado de serragens de pau-cetim”; e está além da minha capacidade desvendar tudo o que este personagem diz:

Entonce, tavam lá arranchado uns comboieros que tinham arrumado o eito, assim pua banda, ia porção de surrão de mio, que fazia assim mod’um escuro. Aí diz que virum a muié do Venanço non sei cum quem, cuas partes de tomá bebida, enquanto o povo no terreno apreciava um cantadô de fama, qui era um dos comboiero donos do mio. É verdade que eu vi ele vendendo, apois tinha muita confiança co Jom Bodoque e a famia…
 
Trata-se do preço que alguns regionalismos pagam — certamente não tão alto quanto o do vanguardismo que barbariza a língua ou pretende recriar, eternamente, o Finnegans Wake.

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