março 27, 2011

Átrio dos Gentios: “promover a fraternidade para além das convicções, mas sem negar as diferenças”

A iniciativa do papa Bento XVI, de criar um novo Átrio dos Gentios – originalmente, o espaço, no Templo de Jerusalém, que não estava reservado exclusivamente aos judeus, mas ao qual poderia ir qualquer pessoa, independente de nacionalidade, cultura ou religião –, tornou-se realidade nos últimos dias 24 e 25 de março, em Paris.

Na verdade, pelo menos desde setembro de 2008 Bento XVI demonstra sua preocupação em promover o diálogo entre crentes e não crentes. Em sua viagem a Paris, em seu famoso discurso no Collège des Bernardins, ele já afirmara que “uma cultura meramente positivista que relegasse para o âmbito subjetivo, como não científica, a pergunta acerca de Deus, seria a capitulação da razão, a renúncia às suas possibilidades mais elevadas e, portanto, o descalabro do humanismo, cujas consequências não deixariam de ser graves”.

E voltou ao tema, de maneira mais assertiva, em dezembro de 2009, durante a apresentação de votos de Natal à Cúria Romana, quando disse: “Penso que a Igreja deveria também hoje abrir uma espécie de ‘átrio dos gentios’, onde os homens pudessem de qualquer modo agarrar-se a Deus, sem O conhecer e antes de terem encontrado o acesso ao seu mistério, a cujo serviço está a vida interna da Igreja. Ao diálogo com as religiões deve acrescentar-se hoje sobretudo o diálogo com aquelas pessoas para quem a religião é uma realidade estranha, para quem Deus é desconhecido, e contudo a sua vontade não é permanecer simplesmente sem Deus, mas aproximar-se d’Ele pelo menos como Desconhecido”.

Atendendo ao desejo do papa, o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, criou essa nova instituição permanente do Vaticano, o Átrio dos Gentios, destinada a promover intercâmbios e encontros entre crentes, agnósticos e ateus. Foi o que teve início em Paris – na Universidade de Sorbonne, no Instituto da França e na sede da Unesco.

Fechando o primeiro momento desse diálogo mais que necessário, realizou-se, na noite de 25 de março, uma festa no átrio da Catedral de Notre-Dame. Na oportunidade, a catedral foi aberta e todos foram convidados a participar de uma vigília de oração e meditação. Pouco antes, no telão que dominava a praça, apresentou-se a mensagem de Bento XVI, da qual coloco, a seguir, alguns dos trechos mais significativos:

A questão de Deus não é um perigo para a sociedade, não põe em perigo a vida humana. A questão de Deus não deve estar ausente das grandes interrogações do nosso tempo.

Queridos amigos, deveis construir pontes entre vós. Aproveitai a oportunidade que se apresenta para descobrir no mais profundo de vossas consciências, através de uma reflexão sólida e ordenada, os caminhos de um diálogo precursor e fecundo. Tendes muito que dizer uns aos outros. Não fecheis vossas consciências aos desafios e problemas que existem diante de vós.

Estou profundamente convencido de que o encontro entre a realidade da fé e da razão permite que o ser humano encontre a si mesmo. Mas muito frequentemente a razão se dobra à pressão dos interesses e à atração do vantajoso, obrigada a reconhecer isso como um critério último. A busca da verdade não é fácil. E se cada um está chamado a decidir-se com valentia pela verdade é porque não há atalhos para a felicidade e a beleza da vida plena. Jesus o disse no Evangelho: “A verdade os fará livres”.
 
As religiões não podem ter medo de uma laicidade justa, de uma laicidade aberta, que permita a cada um e a cada uma viver o que crê, de acordo com sua consciência. [...] Crentes e não crentes têm de sentir livres para ser o que são, iguais em seus direitos de viver sua vida pessoal e comunitária com fidelidade às suas convicções, e tem de ser irmãos entre si. Um motivo fundamental deste Átrio dos Gentios é promover essa fraternidade para além das convicções, mas sem negar as diferenças. E, ainda mais profundamente, reconhecendo que só Deus, em Cristo, liberta interiormente e nos permite reencontrar-nos na verdade como irmãos.

março 24, 2011

“Uma democracia pura não é outra coisa senão um populacho”

Há poucos dias, em Sibila, publiquei minha análise do Viagem aos Estados Unidos, de Alexis de Tocqueville. Vejam um trecho:

Na cidade de Baltimore, encontra-se com Charles Carroll, último sobrevivente dos signatários da Declaração da Independência, que lhe diz, sem meias palavras: “A mere democracy is but a mob” (“Uma democracia pura não é outra coisa senão um populacho”). Se, a princípio, Tocqueville mantém-se dúbio diante dessa afirmativa, ela certamente o instigou, contribuindo para as geniais conclusões de A democracia na América, entre elas, a de que governos centralizadores e democracias radicais, que oprimem as minorias discordantes, causam o mesmo tipo de mal:
 
Não há [...] na terra autoridade tão respeitável por si mesma nem revestida de um direito tão sagrado que eu desejasse deixar agir sem controle e dominar sem obstáculos. Quando, portanto, vejo dar o direito e a faculdade de fazer tudo a uma potência qualquer, quer se chame povo ou rei, democracia ou aristocracia, quer se exerça numa monarquia, quer numa república, então digo: aí está o germe da tirania, e procuro ir viver sob outras leis.

março 23, 2011

março 22, 2011

A acédia, tristeza da alma

Monseñor Juan del Río Martín*

Sentirse triste es un estado de ánimo que se da con frecuencia y que comporta un malestar psicológico que en ocasiones no se sabe como describirlo. Sin embargo, estar apenado en un determinado momento no es suficiente para afirmar que se padece depresión. Hay una tristeza llamada normal, que es la situación de abatimiento o desánimo como consecuencia de unos acontecimientos o situaciones personales difíciles. Hay también lo que pudiéramos denominar una tristeza buena, que es aquella provocada por el arrepentimiento de nuestros pecados y que nos lleva a reparar el mal y a tener más confianza en Dios. En cambio, la tristeza mala es aquel estado del alma, lo que los antiguos monjes conocían bajo el nombre de acedía, que se caracteriza por el sufrimiento de estar en el mundo, junto a un desinterés total por la vida. Este tipo de tristeza viene más bien ocasionado por la incertidumbre interior y la ausencia de propia realización; acerca de ella decía Casiano:

“La tristeza es áspera, impaciente, dura, llena de amargor y disgusto, y le caracteriza también una especie de penosa desesperación. Cuando se apodera de un alma, la priva y aparta de cualquier trabajo y dolor saludable” (Instituciones, 9).

La acedia es la gran tentación para el solitario eremita y para el solitario moderno del asfalto y del estrés del ejecutivo. El hombre se siente traspasado hasta el límite. El alma se embrolla y el corazón se endurece. Todo se pone en cuestión y se llega a comportamientos infantiles que son impensables. San Gregorio Magno enumera las consecuencia de la acedia como: “la desesperación, desaliento, mal humor, amargura, indiferencia, somnolencia, aburrimiento, evasión de sí mismo, hastío, curiosidad, dispersión en murmuraciones, intranquilidad del espíritu y del cuerpo, inestabilidad, precipitación y versatilidad” (Anselm Grüm Nuestras propias sombras. Tentaciones. Complejos. Limitaciones, 3, p. 68).

Por ello, en el mundo moderno existe un vínculo entre depresión y acedía, cuya curación no se consigue sólo por medio de la medicina, sino que hay que tener presentes los elementos espirituales de la persona. Para superar esta tristeza del alma, el venerable Juan Pablo II proponía que “la clave para ayudar a una persona con depresión es el amor y la oración. Las personas que cuidan de los enfermos deprimidos deben ayudar a recuperar la propia estima, la confianza en sus capacidades, el interés por el futuro, las ganas de vivir..., hacerles percibir la ternura de Dios... En el camino espiritual son de gran ayuda la lectura y la meditación de los salmos, el rezo del Rosario, la participación en la Eucaristía, fuente de paz interior” (Juan Pablo II, XVIII Conferencia Internacional sobre la Depresión).

¿De dónde nace esta tristeza existencial? De aquellas ideas dominantes que conllevan al desánimo o lo fomentan. Son aquellas que están en la cultura nihilista que domina la sociedad y que tiene en muchos casos sus altavoces en los Medios de Comunicación Social. Podemos enunciar algunas: menospreciar el trabajo como realización de la persona, desnaturalización de los lazos entre los hombres, ver al otro como un infierno, la visión psico-analítica freudiana que reduce al hombre a sus pulsiones, la misma desestabilización de la familia, las estructuras de pecado, que no tienen otra consecuencia que la desestructuración de la persona humana y abren verdaderos focos de depresión, desviando finalmente al hombre de su camino hacia Dios.

El antídoto de la acedía es la alegría; no es propio del cristiano estar triste, ya que así es muy difícil progresar en la vida espiritual y, por lo tanto, en el amor a Dios y a los hermanos. La tristeza predispone al mal porque es “como la polilla al vestido y la carcoma a la madera, así la tristeza daña el corazón del hombre” (Prov 25,20); hay, pues, que luchar contra ese estado del alma: “Anímate, pues, y alegra tu corazón, y echa lejos de ti la congoja; porque a muchos mató la tristeza. Y no hay utilidad en ella” (Ecl. 30,24-25). Además, por una razón muy sencilla que nos dice el poeta converso a la fe católica Paul Claudel: “La alegría es la primera y la última palabra del Evangelio”.

*Monseñor Juan del Río Martín es el arzobispo castrense de España

Fonte: Zenit

março 18, 2011

O melhor de Inglês de Sousa

Este mês, no Rascunho, escrevo sobre o paraense Inglês de Sousa e sua coletânea Contos amazônicos:

Para nossa felicidade, esses contos, publicados três anos depois de O cortiço, não apresentam, no geral, a preocupação ou a necessidade de provar teses sociológicas com base na biologia, denunciar vícios supostamente hereditários ou condenar a humanidade ao fado da corrupção moral, as chamadas “superstições do naturalismo”, segundo Sérgio Buarque de Holanda (no clássico ensaio Inglês de Sousa: o missionário), que agradavam sobremaneira a Aluísio Azevedo.

março 07, 2011

Aforismos: entre a literatura e a filosofia

Um trecho de meu artigo “Centelhas de verdade”, na edição de fevereiro do Rascunho:

Pleno de agudeza e concisão, no centro do aforismo pulsa uma força que pretende depurar a existência sem necessitar de argumentações. E quanto mais elaborada a frase por meio da qual o pensamento se expressa, mais o aforismo denuncia a banalização da linguagem.

março 06, 2011

Teologia vulgar e subliteratura

As licenças poéticas do autor não conformam apenas um desvio, um afastamento da verdade. Não. Há certa teologia vulgar e sensacionalista do começo ao fim da crônica: uma aula de falsificação. Apelativo e banal, o texto pretende ser poesia – mas não passa de subliteratura. É Frei Betto, hoje, na Folha de S. Paulo:

Meu Carnaval é pura orgia. Porque me recolho na alcova da plena nudez e convoco o trio: o Pai, que é mais Mãe, o Filho e o Espírito Santo. Ébrios de amor, atravessamos as madrugadas em uma despudorada esbórnia espiritual. [...]

Meu Carnaval não tem a elegância das comissões de frente, a majestática apoteose dos carros alegóricos, o esplendor dos concursos em que desfilam imperadores e ninfas. É uma festa na qual o espírito se despe de toda fantasia e se exibe às verdades mais atrozes.

Nele, cubro-me de paetês e de lantejoulas para aliviar o dom inefável de me saber morada divina. [...]

Meu Carnaval se estende por toda a vida, até culminar na apoteose que faz do radicalmente humano sua divina plenitude.

Meu Carnaval é acreditar que o reinado de Momo é prenúncio do futuro que nos aguarda [...].

março 02, 2011

março 01, 2011

Crítica ao catolicismo “à la carte”

Sábias palavras, as do arcebispo Adriano Bernardini, núncio apostólico na Argentina:

[...] o Papa Bento, precisamente por sua fidelidade à “Verdade”, faz uma coisa que escapou à atenção de muitos comentaristas: traz de novo, integralmente, o credo na fórmula do Concílio de Constantinopla, isto é, na versão normalmente contida na Missa. A mensagem é clara: recomecemos a partir da doutrina, dos conteúdos fundamentais da nossa fé. “Sim, porque – escreve o teólogo e pontífice Ratzinger – o primeiro anúncio missionário da Igreja hoje é posto em perigo por teorias de tipo relativista, que pretendem justificar o pluralismo religioso, não só ‘de facto’, mas também ‘de jure’”.

A consequência desse relativismo, explica o futuro Bento XVI, é que sejam consideradas superadas uma série de verdades, como por exemplo: o caráter definitivo e completo da revelação de Cristo; a natureza da fé teologal cristã com relação à crença nas outras religiões; a unicidade e a universalidade salvífica no mistério de Cristo; a mediação salvífica universal da Igreja; a subsistência na Igreja Católica da única Igreja de Cristo.

A íntegra da homília pode ser lida aqui.