fevereiro 15, 2013

Escritores: entre a luta e a leviandade

“O momento de escrever sempre traz para o verdadeiro escritor uma sensação penosa e angustiante. Uma espécie de sentimento de medo ou de angústia. Certamente que não é indolência aquilo que o faz adiar o seu trabalho até o último instante possível. Ao contrário: o verdadeiro escritor ama e deseja o trabalho literário; e nessa situação mesma é que se encontrará a causa das suas hesitações. Imagina a literatura com a maior seriedade, e se imagina, por isso, indigno dela. Experimenta ao escrever um duplo sofrimento: antes, a incerteza, o receio, o medo de que nada consiga escrever; depois, o desgosto do que escreveu: a certeza de que o seu trabalho vale muito pouco, ou quase nada, porque tudo o que realiza se coloca infinitamente abaixo do que imagina e deseja. Luta dramática esta que se desenvolve, no espírito do escritor, entre a sua idealização e a sua realização. As ideias, os pensamentos, os planos não são difíceis em si mesmos; a dificuldade toda se encontra na expressão em palavras. Não sei nada de mais comovente do que essa luta de um escritor com as palavras que precisam ser conquistadas e dominadas. Fico assombrado diante da leviandade e da inconsciência com que falsos escritores jogam com as palavras, como se elas fossem uns brinquedos inofensivos e fosse a literatura um divertimento sem consequências.”
 
Álvaro Lins, em Sobre crítica e críticos.

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